quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Mecanismos de Defesa não especificos e Mecanismos de Defesa especificos


Os agentes patogénicos são impedidos de entrar no organismo pelos mecanismos de defesa não específica, também designados por imunidade inata ou natural, ou são destruídos quando conseguem penetrar. Estes mecanismos desempenham uma acção geral contra corpos estranhos, independentemente da sua natureza, e exprimem-se sempre da mesma forma.


Barreiras físicas ou anatómicas e secreções
A pele é uma barreira de defesa primária contra os agentes patogénicos. As bactérias, os vírus e os fungos raramente penetram quando a pele está íntegra. Contudo se houver uma lesão na pele (ex.: um pequeno golpe), o risco de infecção por agentes patogénicos aumenta drasticamente.
Os fungos e as bactérias que normalmente vivem e se reproduzem em grande número nas superfícies do nosso corpo, sem causar doenças, constituem a “flora normal”. Estes competem por espaço e nutrientes com os agentes patogénicos, o que constitui um tipo de defesa
O muco segregado por tecidos dos sistemas visual, respiratório, digestivo, excretor e reprodutor constitui igualmente uma defesa contra os agentes patogénicos.
As lágrimas, o muco nasal e a saliva possuem uma enzima (a lizosima) que ataca a parede celular de inúmeras bactérias. O muco nasal também retém os microrganismos nas vias aéreas superiores, e os que alcançam as regiões profundas do tracto respiratório são capturados pelo muco aí existente, sendo posteriormente removidos das vias respiratórias pelo batimento dos cílios, que conduzem uma camada de muco, contendo microrganismos em direcção à faringe, onde serão enviados para o estômago, nariz ou boca a fim de serem expulsos. Através dos espirros, também são eliminados para o exterior alguns microrganismos presentes no tracto respiratório.
Os agentes patogénicos que atingem o tracto digestivo (estômago, intestino delgado e intestino grosso) são alvos de outros mecanismos de defesa. O estômago constitui um ambiente fatal para várias bactérias devido à secreção do ácido clorídrico e das proteases aí existentes. As paredes intactas do intestino delgado raramente são penetradas por bactérias, e alguns microrganismos são destruídos pelos sais biliares. No intestino grosso existem bactérias que, no geral, são rapidamente removidas junto com as fezes. Todavia, a maioria das bactérias existentes no intestino pertence à “flora normal”, sendo mesmo benéficas para o organismo.
As barreiras e as secreções referidas são mecanismos de defesa não específicos porque actuam de igual modo sobre todos os agentes patogénicos. Os mecanismos de defesa não específica que actuam sobre os agentes patogénicos que conseguiram transpor as barreiras externas são a reacção inflamatória, a fagocitose, o interferão e o sistema complemento.

A fagocitose
A fagocitose representa um importante mecanismo de defesa não específica contra agentes patogénicos que ultrapassam as barreiras superficiais de defesa. As células promotoras deste mecanismo são leucócitos.
Algumas células fagocitárias (ou fagócitos) circulam livremente na corrente sanguínea, enquanto outras deixam os vasos sanguíneos e aderem a certos tecidos.
Numa primeira fase, os agentes patogénicos, vírus e outras células são reconhecidos pelos anticorpos que se ligam aos antigenes específicos. Os leucócitos são assim capazes de aderirem à membrana da célula invasora. De seguida, a célula fagocitária emite pseudópodes que auxiliam no processo de endocitose, de modo a que o agente patogénico penetre no interior desta célula. Posteriormente, o patogene é degradado por enzimas lisossomais existentes nos lisossomas.

Existem três tipos de fagócitos:
• Os neutrófilos – são os fagócitos mais abundantes, embora tenham um tempo de semivida muito curto. Têm a capacidade de reconhecer e atacar agentes patogénicos em tecidos infectados;
• Os monócitos – diferenciam-se em macrófagos, que têm um tempo de vida mais longo que os neutrófilos e podem destruir um número superior de agentes patogénicos. Alguns macrófagos migram ao longo do organismo, outros residem em locais específicos como o baço;
• Os eosinófilos – são fracamente fagocitários, sendo a sua principal função matar parasitas.

A inflamação

O organismo recorre a uma resposta inflamatória em processos infecciosos ou em qualquer outro processo que afecte a integridade dos tecidos de revestimento interno ou externo.
Os sintomas de reacção inflamatória são vermelhidão e inchaço (edema) acompanhados de calor e dor. A vermelhidão e o calor resultam da vasodilatação induzida pela libertação de histaminas, nas áreas libertadas pelos basófilos (leucócitos) quando estes se lesionam e actuam como sinalizadores químicos – quimiotaxia. Estas provocam uma maior permeabilidade dos capilares sanguíneos, possibilitando a saída de plasma e leucócitos (fagócitos) para os tecidos e o consequente edema característico. Os fagócitos deslocam-se desde o capilar até ao local lesionado, por um processo de diapedese, só possível pelo facto de os leucócitos poderem mudar de forma.



Os neutrófilos são os primeiros leucócitos a chegarão local de infecção, seguidos dos monócitos que se transformam em macrófagos. Estes englobam e digerem os invasores, bem como os restos celulares.
Em consequência do processo inflamatório, pode ocorrer a acumulação de pus, que é constituído por células mortas (neutrófilos e corpos celulares atingidos) e pelo plasma libertado. Numa fase final, o pus é, geralmente, consumido e digerido pelos macrófagos.

A febre como alerta
A febre é um mecanismo adaptativo, é um dos sintomas mais comuns nas reacções inflamatórias porque as toxinas, produzidas pelos agentes patogénicos, e os pirógenos (o mais conhecido é a interleucina 1), produzidos por alguns glóbulos brancos, fazem disparar a temperatura corporal. Essas substâncias pirogénicas agem no hipotálamo (o termóstato do corpo), reconfigurando-o para uma temperatura mais alta, e ao fazê-lo, desencadeia os mecanismos de aumento da temperatura do corpo (tremores e vasoconstrição) a níveis acima do normal. Esta pode impedir a proliferação de micróbios e melhorar a resposta imunológica pelo aumento da capacidade bactericida, migratória dos glóbulos brancos e aumento na produção de interferão contra certos vírus. A sensação que a pessoa febril sente faz com que poupe energia e descanse, funcionando também através do maior trabalho realizado pelos linfócitos e macrófagos com a vasodilatação causada pelo aquecimento.
Após a reacção inflamatória pode ocorrer a reparação tecidular, ou formarem-se abcessos ou granulomas. Os abcessos ocorrem quando a lesão tecidular é muito grande e se forma uma bolsa de pus constituído por microrganismos invasores, leucócitos e restos de tecidos liquefeitos. O granuloma ocorre quando os microrganismos são incluídos em células fagocitárias, mas não são destruídos e em torno dessas células fagocitárias dispõem-se outras, sendo todo o conjunto circundado por uma cápsula fibrosa.

Interferão
Os interferões são proteínas produzidas por certas células quando atacadas por vírus ou por parasitas intracelulares. Estas proteínas não apresentam especificidade pois podem inibir a replicação de diversos vírus. Os interferões difundem-se, entram na circulação e ligam-se à membrana citoplasmática de outras células, induzindo-as a produzir proteínas antivirais que inibem a replicação desses vírus. O interferão não é uma proteína antivírica mas induz a célula a produzir moléculas proteicas antivirais.

Sistema de complemento
O sangue dos vertebrados contém cerca de vinte proteínas com acção antimicrobiana que constituem o sistema de complemento. Estas proteínas, em diferentes combinações fornecem três tipos de defesa:
• Apresentam capacidade de aderir às membranas dos micróbios, auxiliando os fagócitos a destruí-los;
• Activam a resposta inflamatória e atraem os fagócitos para o local da infecção, funcionando como sinalizadores químicos;
• Em colaboração com os anticorpos, promovem a lise (rompimento) das células invasoras (como por exemplo, das bactérias)
As proteínas de complemento actuam numa consequência característica ou em “efeito cascata”, no qual cada proteína activa a seguinte.



                 Mecanismos de defesa específicos

O nosso organismo é constituído pelo sistema imunitário, pelos vasos linfáticos, órgãos e tecidos linfóides e as células efectoras, e tem como função defender o nosso corpo reconhecendo os invasores estranhos ao nosso organismo, como bactérias, vírus ou parasitas, neutralizá-los, e por fim eliminá-los. O sistema imunitário consegue reconhecer os organismos que lhe são estranhos, através de glicoproteínas inseridas nas membranas das células, e que identificam o que é próprio do organismo e o que não é, uma vez que cada ser vivo é incomparável do ponto de vista bioquímico. Para cumprir com a sua função de defesa, o sistema imunitário possui dois tipos de, mecanismos: os mecanismos de defesa não – específicos e os mecanismos de defesa específicos. Neste subcapítulo apenas serão abordados os mecanismos de defesa específicos.
Os mecanismos de defesa específicos, ou imunidade adquirida, iniciam a sua acção alguns dias após a invasão de agentes patogénicos, no entanto, estes mecanismos têm uma acção muito mais eficaz, dirigida e específica. Estes mecanismos constituem a terceira linha de defesa, e a acção dos linfócitos é bastante eficaz, uma vez que possuem memória, ou seja, quando entram em contacto com um invasor, “memorizam” as suas características e conseguem reconhecê-lo quando este entra de novo no nosso organismo, o que permite uma melhor acção sobre ele.
Os animais vertebrados possuem dois tipos de linfócitos, os linfócitos B (Bone Marrow) e os linfócitos T (Thymus), que são ambos produzidos por células estaminais da medula óssea vermelha ou do fígado (durante o período fetal). Inicialmente estes dois tipos de linfócitos, no entanto, depois sofrem diferentes tipos de maturação, e consequentemente diferentes tipos de especialização. Os linfócitos que dão origem aos linfócitos B permanecem na medula óssea vermelha e sofrem aí o seu processo de maturação. Pelo contrário, os linfócitos que dão origem aos linfócitos T migram da medula para o timo e sofrem lá o seu processo de maturação.
Estes dois tipos de linfócitos são responsáveis por diferentes processos de imunidade: os linfócitos T especializam-se na designada imunidade celular, enquanto que os linfócitos B se especializam na imunidade humoral. As respostas de ambos os linfócitos só são desencadeadas por umas moléculas designadas por antigénios ou antigenes, que pertencem a diferentes tipos de agentes invasores, como vírus, bactérias, protozoários, moléculas existentes no pólen, pêlos dos animais ou até mesmo células de outras pessoas.
No decorrer da maturação os linfócitos B e T adquirem determinadas moléculas específica, os receptores de antigénios, que funcionam como receptores e passam a reconhecer diversos e numerosos antigénios, o que lhes concede a capacidade de terem uma acção activa durante a resposta imunitária, daí serem designados por células imunocompetentes. Durante este processo os linfócitos também ganham a capacidade de distinguir o que faz parte do organismo, daquilo que lhe é desconhecido. Desta forma, todos os linfócitos que apresentarem nas suas membranas receptores de antigénios para as moléculas que fazem parte do organismo, são eliminados, caso contrário o próprio organismo começava a ser destruído, pois desenvolver-se-ia uma resposta imunitária contra ele.
Após o processo de maturação os linfócitos deslocam-se para os diversos órgãos e tecidos do sistema imunitário, como para a linfa, os gânglios linfáticos, o sangue, o baço e as amígdalas.
Os linfócitos, actuam de uma forma bastante eficaz e equilibrada, destruindo os agentes agressores, devido à sua cooperação com a imunidade humoral e celular, pontos que serão abordados mais à frente, e devido à sua especialização em diferentes tipos de antigénios como já foi referido.

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